Os fatores críticos de sucesso de uma organização são representados nos vértices de um triângulo equilátero, como sendo liderança, conhecimento técnico do negócio e conhecimentos de gestão. A ideia de triângulo visa a demonstrar que os fatores são igualmente importantes, tendo o mesmo peso. De fato, se faltar um deles, a organização certamente não cumprirá seus objetivos. Julgo que a liderança é preponderante, pois o papel de líder é crucial para uma organização. Nossa experiência na implementação de um sistema de gestão em grande número de empresas revela que, sem forte liderança, não se consegue muito progresso. Subalternos resistem a mudanças. Repito, sem liderança pouco acontece. Em muitos casos, deixamos de fazer a consultoria onde não havia liderança inconteste. A condução de projetos nessas circunstâncias seria aceitar, de saída, o fracasso na missão, o que acarretaria desgaste para a nossa empresa.
A nossa escola de gestão foi inicialmente a japonesa, em que a noção de responsabilidade e o exercício da liderança são fundamentais para a condução apropriada de uma organização. Os dirigentes assumem obrigações de responder pelas suas ações e as dos outros membros das companhias.
Se o resultado é ruim, o presidente se demite. Não busca culpados, é dele o ônus do fracasso. Se acontece um grave acidente, por exemplo, o presidente considera-se responsável pelo fato. Já houve até caso extremo de a pessoa suicidar-se. É incumbência do presidente responder por tudo que lhe foi confiado. Inúmeros são os exemplos de políticos se afastarem dos cargos por maus resultados ou suspeita de irregularidades.
No Brasil é diferente. Por exemplo, o gabinete da Casa Civil é no 4º andar do Palácio do Planalto. O gabinete do presidente da República fica no mesmo andar, do lado oposto, não muito distante da Casa Civil. Foi relatado que várias démarches sobre o mensalão se deram na Casa Civil, todavia Lula nunca soube de qualquer tratativa sobre a matéria. Se de fato não ficou sabendo, era alienado ou incompetente. Acho que nenhuma das hipóteses é válida. É impossível que não soubesse, pois um dos objetivos do mensalão era comprar apoio para votações de assuntos de interesse do governo no Congresso. Recentemente, vieram à tona escândalos da Petrobras. O ex-presidente da empresa José Sérgio Gabrielli também declara que não sabia de nada. A atual presidente da República, que foi também ministra de Minas e Energia e da Casa Civil (lá também aconteceu escândalo quando ela era ministra), também não ficou sabendo de nada em alguns assuntos recentes. Causa perplexidade o fato de uma refinaria ser orçada em determinado valor, ocorrerem vários reajustes e nada disso suscitar análise profunda da execução da obra, no tempo em que ela era presidente do conselho de administração. Precisamos, então, rever o conceito de liderança e responsabilidade, principalmente no trato da coisa pública. Aqui, presidente não preside, é uma pessoa alienada e alheia aos acontecimentos. Na iniciativa privada não é assim.
Conceitualmente, precisariam, então, ser revistas no país as responsabilidades referentes a conselhos de administração. A Lei das S.A. é clara, como diria o Arnaldo, atribui obrigações indelegáveis aos conselhos. Ora, aprovar a aquisição de uma refinaria por soma vultosa, tendo como base relatórios sucintos, é no mínimo temerário. Ver orçamentos de obras serem alterados com frequência, sem exigir justificativas plausíveis, é inadmissível. No caso da Petrobras, os conselheiros são/eram pessoas de alto nível e tarimbadas. Não poderiam deixar de cumprir a lei, que preconiza a fiscalização da diretoria. Não estavam ali para apenas dizer amém. Seria, então, supor que os verdadeiros dirigentes, os tomadores de decisões, eram os diretores da empresa. Afinal, também o próprio presidente da empresa declarou desconhecer as irregularidades.
Finalmente, é preciso que dirigentes assumam responsabilidades. Não basta afirmar que nada sabiam. O pior é que são lisos e impermeáveis. Declaram solenemente desconhecer os fatos e fica tudo por isso mesmo. É o efeito teflon, nada gruda. De modo geral, é imperioso resgatar a ética na política e na administração pública. Exemplos que vêm de cima infestam a sociedade, pois o mal tem força desvastadora.