O Brasil segue sendo a 7ª economia do mundo. Todavia, alguns dos nossos indicadores como IDH (79º), teste do Pisa (55º em leitura), qualidade de internet (90ª), por exemplo, deixam muito a desejar. Ainda assim, seria de se supor que pessoas de países com os quais mantemos maior intercâmbio conhecessem um pouco mais de nossas coisas. Ao contrário, são desinformadas. Há alguns anos, isto era compreensível. Quando fiz pós-graduação na Noruega, era questionado sobre matança de índios, favelas, pobreza. Aqui era a terra do futebol e Carnaval, disso sabiam. Tinha que levar numa boa. Lá estava como subdesenvolvido, bolsista de uma agência norueguesa dedicada ao desenvolvimento internacional.
Algum tempo depois, já na UFMG, como coordenador da pós-graduação em metalurgia, apresentamos projeto à ONU para ter um expert sueco em processos especiais de fabricação de aço. Selecionamos o especialista entre 3 que se candidataram e tivemos todo o cuidado de informar o estágio em que se encontrava o nosso programa. Já tínhamos o mestrado funcionando há bem tempo, inclusive com a produção de muitas teses e artigos publicados, e os docentes eram, na sua maioria, portadores do título de Ph.D, obtidos em vários países. Parece que a pessoa não acreditou no nosso relato. As aulas que começou a ministrar se referiam a conceitos básicos de termodinâmica, os quais eram dominados pelos mestrandos desde o curso de graduação. Tive que paralisar o curso e dar 1 mês de prazo para que o visitante preparasse o curso de que precisávamos.
De outra feita, era chefe do Departamento de Metalurgia o professor Carlos Bottrel. Tínhamos, naquela época, um projeto de intercâmbio com a Alemanha. Era projeto grande, tínhamos até um professor visitante alemão para ajudar na sua administração. O objetivo era trazer técnicos para contribuir com nosso departamento e também treinar docentes e pós-graduandos na Alemanha, além de obtenção de equipamentos. Nesse contexto, o professor Bottrel trabalhou diligentemente para trazer um grande especialista em transformação mecânica dos aços. Discorreu sobre as áreas de atuação do departamento, perfil dos professores, alunos, laboratórios etc. Como se tratava de uma sumidade no assunto, foram convidados alguns parceiros da indústria para assistir a uma aula magna do visitante. Todos ficaram atônitos quando ele começou a sua aula definindo o que era o aço: uma liga ferro-carbono etc. Uma coisa inacreditável. Depois de alguns minutos, Bottrel pediu tempo, chamou o visitante à parte e pediu que mudasse a abordagem. Em suma, foi mais um que não acreditou que já estávamos em outro nível. Julgou que estávamos na idade da pedra.
Na área de gestão, fizemos um grande trabalho desde 1986. Treinamos milhares de gerentes, supervisores, operadores. Um método científico de solução de problemas foi maciçamente disseminado (o PDCA). Assim, conceitos foram difundidos por todo o país, como definição e identificação de problemas, estabelecimento de metas, pesquisa das causas fundamentais dos problemas, construção do plano de ação e seu gerenciamento para melhoria dos resultados. Isto foi fundamental para que o país se tornasse mais competitivo e várias empresas avançassem, tornando-se grandes corporações internacionais. Mesmo assim, brasileiros ainda trazem gurus internacionais para falar sobre conceitos básicos. E lotam auditórios, como aconteceu recentemente no Palácio das Artes. Ora, depois de termos conhecimentos bem sedimentados, com livros editados, de forma didática, ensinando com clareza o quê e o como fazer, é inadmissível tal procedimento. Como comprovação, estamos levando conhecimentos de gestão a empresas de vários países. É possível que o guru não conhecesse o nosso estágio na matéria. Difundiu conceitos gerais, descontextualizados de um método gerencial. Bradou exortações, o que não leva a nada. É nossa culpa! Funciona o sentimento de menos valia, na certeza de que santo de casa não faz milagres. Na realidade, busca-se quem faça mágica: necessitam-se receitas milagrosas trazidas por gurus externos. Mas não tem almoço de graça. Resultados exigem trabalho duro, metódico e persistente. Há outra explicação: muitos treinados estão se aposentando e novos não são capacitados.