Quando começamos a difundir a gestão para melhoria de resultados na educação, houve grande resistência por parte de dirigentes e professores. É próprio da metodologia identificar problemas( maus resultados), como repetência, abandono e também baixo desempenho dos aprovados, no mercado de trabalho e no acesso a universidades, e estabelecer metas de melhoria. Havia verdadeira ojeriza a metas e diziam, p. ex., que a escola não era para preparar os alunos para os fins acima. Era sua obrigação formar cidadãos. Discorrendo sobre habilidades não cognitivas, como direitos e deveres, regras de convivência, politização de alunos? Eu me perguntava: que tal fazer isso e também ensinar a ler, escrever, a dominar as quatro operações e outras matérias importantes do currículo? Poderiam, então, os egressos exercer a sua cidadania. O estabelecimento de metas ficou amenizado depois que o MEC criou o IDEB, fixando-as para serem atingidas até o ano 2021. Os resultados têm sido pífios, pois não basta dizer o “que fazer”. Ainda saem da escola muitos analfabetos funcionais. Mesmo assim, as pequenas melhorias são comemoradas triunfalmente pelos governos federal e alguns estaduais. É preciso ensinar o “como fazer”, analisando e atacando as causas dos maus resultados.
Recentemente, veio à baila nova ênfase ao desenvolvimento na sala de aula de habilidades não cognitivas, entre as quais a disciplina, abertura a novas experiências, sociabilidade, colaboração e estabilidade emocional. Há quem defenda que são mais importantes que o domínio das matérias tradicionais, como matemática e português. É inegável que são importantes, mas que não seja desculpa para que, ao final, os alunos não saibam ler, escrever e dominar as quatro operações. Aliás, há muitos anos as citadas habilidades eram abordadas pelo Programa 5S (sensos de utilização, organização, limpeza, de saúde e autodisciplina). Há bastante tempo, a GIDE- Gestão Integrada da Escola, por meio do indicador que dela faz parte, o IFC/RS- Índice da Formação de Cidadania e Responsabilidade Social, englobando o Programa 5S e incluindo outros indicadores, aborda de forma sistemática habilidades não cognitivas. Especifica a estas significativo valor, cerca de 25%, no sentido de que não sejam negligenciadas no conjunto de ensinamentos de responsabilidade da escola. Assim, a recente grande novidade já é tratada de maneira rotineira nas escolas que adotam a GIDE. Todos os fatores são levantados, medidos, e dadas indicações para que seja dedicada atenção a algum fator anômalo.
Existem no País numerosas fundações e ongs, mantidas por empresas e personalidades da sociedade civil, preocupadas com a educação. Promovem encontros, seminários, congressos, visitas ao exterior para saber o que se faz na Finlândia, na Coreia do Sul, p.ex. Trazem especialistas internacionais para apresentar receituário do que deve ser feito. Discussões, debates, elocubrações aí acontecem e também aí terminam, pois nada de prático, palpável, é implementado. Na realidade, os resultados dos eventos não atingem o nível da sala de aula, onde tudo acontece. Isto ocorre há anos, mas nada muda. De acordo com um princípio básico da padronização, aprendemos que “quando fazemos as mesmas coisas, colhemos sempre os mesmos resultados”. Já era hora de mudarem as abordagens, trabalhando para indicar o “como fazer” e propugnar para que seja feito. Na realidade, penso que uma parte dessas pessoas não busca, de fato, a solução dos problemas da educação. É uma tema fascinante para debates e razão para destaque na mídia. A prova disso é que este esforço de vários anos em nada contribuiu para o Brasil sair da incômoda posição de 56o lugar no teste do PISA. Entretanto, já há muitos mantenedores de tais instituições frustrados com os resultados. Sentem que estão enxugando gelo.
Gostaria que essas pessoas dedicassem tempo e esforço para que as coisas óbvias na educação fossem feitas, conforme algumas ideias defendidas em artigo que escrevi há cerca de um ano. Assinalo agora duas delas: ter professores bem formados e bem remunerados e alunos assistidos para que possam estar na sala de aula, cumprindo o que prescrevem os currículos.