A jornalista Natuza Nery, da FSP(13/1/13), entrevistou Lademir Filippin, mestre de cerimônias oficiais do Palácio do Planalto. Ele está nesta função desde o governo Figueiredo. Narra que Collor foi o mais rigoroso chefe e que aprendeu o equivalente a 20 anos em 2 anos ao lado dele. A amigos confidenciou que Collor era o seu preferido, apesar do gênio difícil. Classificou Fernando Henrique como um “gentleman”, o que não é novidade.
A notícia trouxe-me à lembrança aquele período da história. Sou sempre motivado pelo inovador, o arrojado, pelas possibilidades de mudanças e combate a estruturas anacrônicas. Por isso, tornei-me um dos mais fervorosos partidários de Collor. Fiz campanha, convenci amigos e familiares a votar nele. Fiquei satisfeito com as primeiras medidas.
Em viagem ao exterior, classificou os carros brasileiros de carroças. Não fora isso, talvez tivéssemos hoje ainda os carros com carburadores, tal a proteção ao mercado interno. Deu um choque na economia para tentar domar a inflação que atingira patamar insuportável. Iniciou o processo de privatizações. Não fosse isso e o que se seguiu com Itamar e Fernando Henrique, estaríamos em pior situação. Os contribuintes ficaram livres das siderúrgicas deficitárias e cabides de emprego. Nas telecomunicações, talvez estivéssemos no mesmo estágio da infraestrutura de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, ou seja, caótico. Fez a 2a. abertura dos portos e isso foi fundamental para que o País iniciasse uma nova era. O nosso isolamento do exterior era uma barreira quase intransponível. Como professor e gestor universitário era difícil conviver com as limitações impostas. Como estávamos engajados no Projeto de Gestão pela Qualidade Total, tínhamos a maior dificuldade em mandar recursos para que membros da equipe fizessem cursos e seminários no exterior, enviar passagens aéreas para especialistas japoneses e pagar os honorários em dólares. Certa vez, adquiri 1 microcomputador extremamente limitado, montado no Brasil, para a FCO-Fundação Christiano Ottoni/EEUFMG por 8 mil dólares! Levei 1 ano para importar um projetor para o nosso centro de treinamento para modernizar as apresentações. Naquele tempo, usávamos transparências com retroprojetores. Como ministrávamos cerca de 20 cursos/semana, tínhamos que manusear cerca de 5 mil transparências. Hoje, há projetores em todas as salas de treinamento de escolas e empresas. O microfone “wireless” nacional não podia ser usado tal o nível de ruídos(microfonia). Levei mais de 1 ano para importar um conjunto. Enfim, vivíamos um estágio hoje inimaginável nas coisas mais simples.
O que mais me chamou a atenção no Presidente Collor foi o seu empenho na melhoria da qualidade e produtividade. Dava grande destaque a eventos que tratavam do assunto. Certa vez, promoveu uma cerimônia no Palácio do Planalto, convidando centenas de empresários, dirigentes de instituições ligadas à matéria, professores e consultores para enfatizar a importância do tema para o País. Nossa instituição foi representada pelo Prof. Carlos Bottrel Coutinho. Além disso, designou um técnico ligado diretamente à presidência da república para fazer visitas periódicas a dirigentes de estatais para exigir a implementação de programas de qualidade e produtividade. Isto deu grande impulso aos programas nas empresas e à nossa contribuição a tais programas. Como resultado dessas medidas iniciais, o Brasil veio a se tornar mais tarde um país competitivo em várias áreas.
Como “não há bem que sempre dure, nem mal que não acabe”, vieram as denúncias e tudo mais que muita gente conhece. As coisas que foram levantadas parecem menores em termos do que hoje tem acontecido. Certamente, se Collor tivesse base no Congresso não teria sido cassado. Outros presidentes tiveram que enfrentar tentativas de CPI, mas seus apoiadores não permitiram que fossem aprovadas. Para mim, foi uma grande decepção. Dizer que foram “delitos” menores em função dos recentes fatos perpetrados não justifica. Quem não é fiel na pequenas coisas, também não o é nas grandes. Não existe gente meio honesta, é desonesta. O certo é que ficamos privados de mais medidas modernizadoras que certamente viriam do Presidente Fernando Collor, se tivesse terminado o seu mandato.