Lembro-me que na Universidade havia sempre um bom planejamento, seja para a condução do ensino nos vários níveis, seja para um projeto de pesquisa/ elaboração de uma tese. Por isso, julgava que para gerir o Brasil haveria um planejamento robusto. Esta convicção caiu por terra quando acompanhei o processo de designação de um presidente de empresa. Naquela época, trabalhávamos na área metalúrgica com várias empresas estatais. Uma delas se destacava, apresentava um desempenho excepcional, graças à atuação de seu presidente. Estava terminando o seu mandato; pensava eu que a recondução seria inevitável. Pensei que, em Brasília, deveria haver um projeto consistente, análise de desempenhos, reconhecimento de méritos, etc. Foi surpreendente o nome indicado. Nenhum mérito, puro casuísmo, critério político. Daí em diante, percebo que, exceto em poucos períodos, funciona o varejo, tudo ao sabor das emoções. Haja vista agora. Reduzem-se a taxa de juros e tributos em determinados produtos, desoneram-se folhas de pagamentos em algumas áreas para fortalecer o crescimento. No entanto, o PIB cai. A indústria vem apresentado quedas. Precisamos de “um choque de produção” para promover a concorrência e baixar os preços. Brasileiros estão batendo recordes de gastos no exterior, contribuindo para o déficit das contas externas e queda de empregos. Sacoleiros vão hoje a Miami e Nova York fazer compras, tal a diferença de preços, 1/3 dos valores praticados no Brasil. A administração da Petrobras e a intervenção no setor elétrico são um desrespeito aos acionistas minoritários. Lembre-se que muitos trabalhadores foram incentivados a levantar o FGTS e comprar ações da Petrobras. Tiveram grande prejuízo. Medidas intervencionistas de viés estatizante intimidam investidores e afastam o capital externo. Ou seja, não é feito um estudo cuidadoso, simulações, análise de consequências e riscos. As coisas são feitas na base de tentativas e erros. Teoricamente, as medidas deveriam incentivar empresários a investir. Mas as ações tomadas geram insegurança.
Há meses, nesta mesma revista, escrevi um artigo intitulado Oh Meu Brasil, e Agora? Estava muito pessimista quanto ao futuro. Meses depois, a presidente lançou um plano para concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Fiquei motivado, pois alteraria um setor em que somos muito vulneráveis. A melhoria da infraestrutura do País iria provocar um grande salto. Qual nada! Só boas intenções. As condições propostas não atraíram interessados. Tiveram que revê-las, numa terrível perda de tempo. Na questão dos portos, os sindicatos esperneiam na tentativa de manter a reserva de mercado. A licitação da duplicação da BR 381 foi cancelada devido a falhas técnicas na sua proposição. Seria revista, mas agora vem a notícia de que foi adiada sine die. Ou seja, onde está o planejamento, o estabelecimento das prioridades? De novo o varejo, o improviso.
Neste governo foi criada a Câmara de Gestão, Desempenho e Competitividade. Fui à solenidade de instalação da Câmara. Julguei que seria um avanço em termos de gestão do País. Qual nada! Nenhum resultado palpável em termos de levantamentos, planejamentos e proposições. A regra é clara, como diz o comentarista de arbitragens: determinam-se as áreas prioritárias( educação, saúde, segurança, infraestrutura, p.ex.), estabelecem-se os avanços a serem atingidos, verificam-se as causas que podem impedir os avanços e as contra medidas para neutralizá-las e elaboram-se planos de ação robustos para atingir os resultados. Depois, cobrança obstinada de resultados. A prova do fracasso é que a presidente divulgou no início deste ano que iria estabelecer metas (provavelmente advindas da percepção dela) para seus ministros. Ora, isto não deveria vir do estudo conjunto da Câmara e o Ministério do Planejamento?
De qualquer maneira, fico torcendo pela presidente Dilma. Se a situação piorar, podemos correr o risco da volta de Lula, como salvador da pátria. Seria inaceitável. Nada fez no seu governo nas áreas prioritárias apesar de surfar em ondas favoráveis, devido ao boom internacional pré-crise. Único mérito foi combater a pobreza, devido a condições favoráveis. O combate à pobreza começou no governo anterior apesar das limitadas condições reinantes.