Quem analisa o atual estágio do País é tomado de grande indignação. Temos carga tributária de países desenvolvidos e serviços públicos dos países mais atrasados. Quem viu reportagens sobre o transporte de passageiros em trens de São Paulo e Rio de Janeiro deve estar horrorizado. Que é aquilo? É guerra. Como querer que as pessoas desempenhem bem suas funções, quando já chegam derrotadas no trabalho?
Não tenho especial interesse pelo futebol. Sou torcedor de um único time. Prefiro ver jogos pela TV a ir ao estádio. Nem a seleção brasileira me motiva ou empolga. Quando o Brasil se candidatou a sediar a copa do mundo, a maioria deve ter julgado interessante pelos benefícios que viriam desta competição. Melhoria da mobilidade urbana, das comunicações, ampliação e modernização de aeroportos, entrada de divisas, etc. Em termos de mobilidade urbana, pouco se fez. Os principais aeroportos, em obras, caóticos, não ficarão prontos a tempo. Os gastos são elevados e ao final teremos alguns estádios elefantes brancos, construídos para poucos jogos. O conjunto da “obra” contribuirá para piorar a imagem do Brasil, que deixou de ser a “bola da vez”. Ainda bem que será uma copa para brasileiros, pois turistas estrangeiros serão poucos em vista da crise econômica na Europa. Até os argentinos poderão não vir, pois o país vive crise seriíssima. Para o leigo como eu, dava a impressão de que iríamos promover a copa. Não, a copa é da Fifa, com todos percalços que a temos assistido.
O Brasil, nos seis primeiros anos do governo do PT, surfou em águas tranquilas e obteve bons resultados econômicos, embalado pela grande demanda de commodities, vendidas a preços elevados. O País era a “bola da vez” e Lula o “cara”. Teria sido fácil motivar grupos estrangeiros para participar de concessões, de forma mais vantajosa. Aeroportos, portos e estradas já estariam contribuindo para o nosso crescimento. Por questões ideológicas, repudiaram-se concessões. Recentemente, ao constatar a impossibilidade de o Estado realizar as obras, tiveram que jogar a toalha. Perdeu-se precioso tempo. Não houve também descortino para destinar recursos para obras de extrema necessidade. Todos vimos as dificuldades de escoamento da safra de grãos do último ano devido às péssimas condições das estradas e portos. No entanto, somos surpreendidos com a inauguração do terceiro mais importante porto da América Latina em Cuba, com financiamento brasileiro. A Presidente se justifica, dizendo que a obra beneficiou 400 empresários brasileiros. Ora, obras aqui não os beneficiariam? É revoltante! Incompreensível também é a decisão tomada com relação à BR 381. Depois de anos de lutas e espera, tem-se o notícia de que o trecho Ipatinga-Gov. Valadares não será duplicado.
Governantes brasileiros estão abusando da nossa paciência. São incapazes de encarar determinados problemas com seriedade. Vejam a questão da segurança. É tão desesperadora que exigiria um esforço sobre-humano das forças vivas (ressuscitei este chavão!) da nação, em regime de mutirão, envolvendo a inteligência nacional e mesmo contratando especialistas estrangeiros para resolver o problema. Na guerra civil da Síria já foram ceifadas 130 mil vidas. Ora, no Brasil, acontecem 50 mil mortes/ano devido à criminalidade. Estamos em guerra? Há outra guerra, a do trânsito. As autoridades contemplam esses quadros e pouco fazem para reverter a situação. Os resultados são pífios. É possível que seja mesmo incompetência e/ou falta de vontade para abordar o assunto. Pode ser que a consciência deles já esteja amortecida e encaram tudo com naturalidade. Ou esperam um milagre dos céus.
Os protestos de junho último foram um sinal aos desavisados, logo abafados por promessas vãs. Com o programa “mais médicos”, eleitoreiro, que será incapaz de sozinho resolver os problemas da saúde, e o enfrentamento dos USA na questão da espionagem, retiraram o foco das pessoas. O povo brasileiro é submisso e acomodado. Como tolera situações como as narradas, sem se revoltar? Acredito que temporariamente, depois do alerta de junho. Estamos deserdados, mas tudo tem limite.