Morei na Noruega durante três ano cursando o doutorado. Respondia a perguntas sobre futebol, carnaval, desigualdades sociais, pobreza, favelas e também sobre supostas matanças de índios. As perguntas eram quase censuras. Como entender um país de dimensões continentais, com tantos recursos e tantos problemas? Estaria em mãos erradas? Ao terminar o doutorado, ofereceram-me o pós-doutorado. Agradeci. Tudo aqui está pronto e no Brasil quase tudo está por fazer. Devia voltar e ajudar no que me coubesse.
Iniciei na UFMG em 1972 com o firme propósito de contribuir para que a pós-graduação em metalurgia, recém-criada, alcançasse nível de excelência e, como consequência, acarretasse a melhoria da graduação. Nos anos seguintes houve o término do regime militar e redemocratização, sem avanços sociais muito significativos. Felizmente, foram feitos investimentos na área de energia (Itaipu, Tucuruí e outras), o que garantiu insumo básico para o futuro. A inflação foi sempre grande entrave para visões otimistas de futuro.
O período FHC deu-nos novas perspectivas. Estabilização da moeda, lei de responsabilidade fiscal, metas de inflação, privatizações, universalização do ensino público, o Proer, entre outras medidas. Começamos a ter um País sério. Pela sua formação esmerada e postura de estadista, o Presidente representou-nos brilhantemente no exterior. Infelizmente, não foi feito planejamento, um robusto projeto de desenvolvimento para o país, cuja continuidade na condução fosse imperiosa ao sucessor.
Os seis anos seguintes foram de abundância. Com cenário econômico mundial em expansão, venderam-se commodities em grande quantidade, propiciando elevada reserva cambial e independência do FMI e montante suficiente para pagar a dívida externa. Registre-se o empenho na diminuição da pobreza. Com a casa arrumada, trabalhou-se no varejo e não foram aproveitados os ventos favoráveis para elevar o patamar de desenvolvimento, de acordo com as potencialidades e necessidades do país . Nem sequer foi utilizada a abastança para investir em infraestrutura, o que poderia ter gerado ainda mais empregos. Registre-se o empenho na diminuição da pobreza. Sobreveio a crise de 2008. Porém, tínhamos munições (principalmente incentivo ao consumo interno)e a crise passou.
Temos agora outra crise. A Europa está em recessão e a economia chinesa em queda. Sem as mesmas condições de vender nossos produtos, podemos ter diminuição de emprego e renda. O consumo interno fica limitado, pois as famílias estão endividadas. Haja vista que a inadimplência entre brasileiros aumenta a cada mês. Não houve nos últimos nove anos planejamento e priorização de investimentos em áreas fundamentais, por isso país está numa situação deplorável. a)A educação pública avança lentamente: no teste do Pisa a nossa situação é desconfortável. Sem educação de qualidade o país não vai atingir o desenvolvimento social e econômico de que precisamos. b) A saúde é um caos, dispensando comentários. c) A infraestrutura está em colapso ( estradas, portos, aeroportos). A vida nas grandes cidades está insuportável, pois as ruas estão abarrotadas de carros e é preciso incentivar vendas de novos veículos para não paralisar a cadeira produtiva, o que provocaria desemprego. d) A carga tributária é escorchante e não há condições de reduzi-la, pois o tamanho do Estado é gigantesco e custa muito mantê-lo. Ainda querem aumentar a taxação de minérios como se fosse um produto final e não insumo para várias cadeias produtivas. e) As concessões são lentas e privatizações estacadas, o que poderia diminuir o tamanho do Estado. f)A produção industrial está em queda e gestão para resultados e produtividade em baixa, principalmente a do setor público. g) A corrupção é endêmica. h) Greves no setor público se alastram. Estes são apenas alguns problemas. Se hoje voltasse à Noruega ainda teria que responder muitas perguntas, até sobre nosso futebol que está em baixa. O tema violência urbana viria à tona e eu poderia contrapor com o episódio insólito de Anders Breivik. Nesta situação, só nos resta esperar que apareça um estadista capaz de mobilizar o país para a solução dos problemas cruciais. Até lá, que cada um contribua no que for possível, esperando dias melhores!