Estamos vivendo tempos difíceis. Mas ventos da mudança começam a soprar. O processo do Mensalão, graças ao ministro Joaquim Barbosa, colocou políticos e operadores na prisão. Um feito inédito. Fiquei exultante com o resultado, embora defendesse penas maiores para os intelectuais do esquema, e tenho a convicção de que faltou gente no rol de condenados. A Operação Lava Jato, tendo como principal baluarte o juiz federal Sérgio Moro, já condenou empresários, funcionários de estatais e operadores. E muitos ainda enfrentarão a Justiça. O foro privilegiado, esta excrecência jurídica, retarda o indiciamento de políticos. Eduardo Cunha e Fernando Collor são os primeiros denunciados. Cadê o senador Renan Calheiros? Algum acórdão (ou conluio)?! Se de fato os políticos arrolados forem investigados e denunciados pela PGR, julgados e punidos pelo STF, teremos edificantes exemplos que contribuirão para que seja fortalecida a prática da ética na política. Empresas envolvidas na operação, para continuar trabalhando para o governo e estatais, estão celebrando acordos de leniência, pagando pesadas multas, e seus dirigentes, responsáveis pelos delitos, são condenados e presos. Por isso, julgo que as empresas ficarão, daqui pra frente, mais cuidadosas e passarão a observar atentamente os dispositivos da Lei Anticorrupção, aprovada em 2013. Depois de tudo, certamente haverá melhor ambiente de negócios e a sensação de impunidade, até então reinante, diminuirá.
Em um processo de conscientização, a nação passa a demonstrar que não está satisfeita com os rumos da política. Por três vezes este ano, milhares de pessoas foram às ruas. Na última, os protestos foram focados e ressaltaram mau desempenho da presidente, o comportamento de alguns políticos e bradaram contra a corrupção. Pronunciamentos da presidente na televisão provocam panelaços generalizados país afora. Tudo isso é salutar, pois demonstra que a população não está mais disposta a ser enganada. Concluído o calote eleitoral, tem-se um governo sem projetos e o país está à deriva. Projetos nas áreas de infraestrutura e de energia foram repaginados e relançados para dar a impressão de que o governo está atuando. Mas não há confiança e credibilidade para que tais projetos aconteçam.
A ministra Cármen Lúcia afirmou que a população precisa reivindicar mais, em vez de apenas reclamar. Precisa ter “a ousadia dos canalhas”. O arrojo “não pode ser de pessoas que não cumprem as leis, que usam o espaço público para interesses particulares” (jornal O Globo, 21/8/15). Martin L. King asseverou: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Concordo plenamente.
É claro que fico indignado com a forma como o grupo que assumiu o país há 13 anos o conduz. Abomino a propaganda oficial. Gastam-se somas vultosas (que poderiam ser mais bem aplicadas em áreas prioritárias) em veiculação acintosa sobre feitos do governo. Pela Constuição, artigo 37, inciso XXII, parágrafo 1º, tem-se “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Na maioria dos casos o que se propaga é um engodo.
Da mesma forma, fico indignado com o estágio em que se encontra a educação, um dos principais motores do desenvolvimento. Apesar de o investimento brasileiro ser próximo da média dos países da OCDE, o país se encontra somente em 53º lugar – do total de 65 – no teste do Pisa. Falta, principalmente, gestão para melhoria dos resultados. O governo lançou o slogan Brasil, Pátria Educadora. Um autêntico papo furado, uma piada. A educação seria a prioridade das prioridades. Na verdade, não o é, pois no atual reajuste fiscal contemplaram-se cortes significativos. A indignação atinge o ápice quando se constata que não há ações de vulto para reduzir o tamanho do estado. Na contramão, veem-se estudos para criar novos tributos com o objetivo de cobrir os gastos astronômicos da monumental máquina estatal. É preciso reagir a tudo isto com a maior veemência. E sejamos ousados, como sugere a ministra.