“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”, ensina a sabedoria popular. Por isso, esta crise sem precedentes vai passar. Refletindo sobre o assunto, concluo que seria fácil debelá-la. Bastaria que os principais atores da atual governança do país, num ato magnânimo, desistissem de seus cargos. Afinal, o que essas pessoas buscam? Estão agarradas aos postos na condução de projetos de extrema importância para a nação? Nada disso. São projetos pessoais de manutenção no poder de alguns para impedir apuração de denúncias graves e consistentes, que ensejam a perda de mandatos. Há trocas de proteções escancaradas. No caso da presidente, a incompetência gerencial é incontestável. Lutou com todas as armas para ganhar a eleição. Para quê? Para conduzir qual projeto? Nenhum, em especial. O seu ajuste fiscal se resume em aprovar a CPMF. Já havia provado a sua incompetência no primeiro mandato. Quer ratificar as proezas feitas? Pelo visto, vai se superar.
A crise é nitidamente política. Com a entrada de novos dirigentes, com credibilidade, empresários brasileiros certamente voltariam a investir. A comunidade internacional focaria no Brasil. Há, no momento, muita liquidez no mundo que, pelas nossas condições favoráveis, canalizaria investimentos para projetos de infraestrutura, concessões, fábricas, turismo, entre outros. O empresário Abílio Diniz declarou, numa conferência em Nova Iorque, que o Brasil está em liquidação. De fato, os ativos estão muito baratos e as oportunidades são imensas. Bastaria dar segurança jurídica e certeza de que as regras do jogo não serão mudadas. Com investimentos, o país voltaria a crescer, empregos seriam recuperados, renda e arrecadação aumentariam. Seria um círculo virtuoso. Aliás, julguei muito apropriado o documento do PMDB, denominado Ponte para o futuro. Gostaria que fosse implementado. Não sou apartidário, pois todos temos que assumir posições. Reconheço que o documento poderia ser do meu partido e o endosso, na esperança que possa ser uma opção válida. É bem melhor do que o projeto atual (qual projeto mesmo?). Penso que Michel Temer teria cacife para conduzir uma transição e tirar o país desta posição incômoda, de incertezas, em que vemos políticos digladiando somente por posições pessoais.
Independentemente do que possa acontecer, lembro-me de fatos, acontecidos em 2005, que podem nos orientar para uma tomada de decisão. Em meados daquele ano, veio à tona o Mensalão. O país parou. Recordo-me, na presidência do INDG, que empresas, perplexas, subitamente pararam de contratar consultoria. Mesmo alguns projetos em andamento foram paralisados. Vivenciamos uma estagnação geral. O nosso gráfico de crescimento ficou na horizontal, a partir de maio, um fenômeno que eu nunca tinha visto. Nem a crise internacional de 2008/9 ocasionou tal desempenho. Aquilo indicou que as práticas do Mensalão chocaram a todos, por serem impensáveis na nossa política. Ficou claro que era o projeto de um partido para viabilizar a sua perenidade no poder. A estupefação foi generalizada.
Com o passar do tempo, as pessoas se conscientizaram de que o processo iria demorar muito e decidiram retomar a rotina e seguir a vida. No momento, pelo andar da carruagem, é hora de mudar a postura de aguardar os acontecimentos. Há empresários tentando motivar seus pares a ignorar o que acontece em Brasília e seguir em frente. O interessante é verificar que existem fatores favoráveis. Por exemplo, a desvalorização do real, em vez de ser um obstáculo, passou a ser uma solução. Vários manufaturados brasileiros passam a ser competitivos. Automóveis, caminhões e máquinas agrícolas podem conquistar mercados na América Latina. As commodities que tiveram grandes quedas de preços nos mercados internacionais dão agora maior retribuição em reais aos exportadores. Pelo visto, as exportações desses produtos começam a crescer, apesar da retração mundial. A exportação de carne bovina bateu recordes recentemente. Os estragos da corrupção e desmandos políticos estão feitos e o seu saneamento vai demorar. O país não suporta esperar mais. As mazelas provocadas pela estagflação são incalculáveis. A pior praga é o desemprego que já aflige milhares de famílias brasileiras. Esqueçamos Brasília e seus ETs. É hora de reagir.