Minas Gerais encontra-se em franca decadência. Não fosse o agronegócio a derrocada seria maior. Há muito tempo, o Estado era um importante centro financeiro: 4 bancos estatais foram vendidos( e teriam mesmo que ser, pois serviam para governantes perpetrarem as pedaladas fiscais, além de outros desvios) e 4 outros privados, considerados de grande porte, também o foram. A mineração e a metalurgia eram grandes geradoras de empregos e arrecadação. Agora, devido à drástica redução do preço do minério de ferro em razão da desaceleração da China, as exportações geram menores resultados financeiros, apesar da valorização do dólar. Acresce a isto o acidente da Samarco, que trouxe insegurança à atividade mineradora. Em 2015, o prejuízo da Vale de R$ 44 bilhões é algo inacreditável. A siderurgia enfrenta crise seriíssima. A capacidade instalada mundial é superdimensionada. Com o País em estagflação, o consumo caiu muito. A indústria automobilística e a construção civil, grandes consumidores dos produtos, reduziram as suas atividades. A solução seria exportar. Num mercado em que a oferta é maior que a demanda, sobrevivem as empresas mais competitivas. Mas as nossas não mais o são.
Oriundo do Vale do Aço, fui influenciado a cursar engenharia metalúrgica. Fiz um bom curso, informativo, voltado à produção, com descrição de equipamentos, processos e padrões operacionais. Não deu embasamento para acompanhar mudanças científicas e tecnológicas que ocorrem ao longo dos anos de exercício da profissão. Motivados por um grupo de jovens professores da UFMG e cientes dos planos de desenvolvimento de várias empresas que contemplavam a fabricação de produtos com maior valor agregado, muitos da minha turma optaram por cursar a pós-graduação no Brasil e em vários países. Eu fiz o doutorado na Noruega. Ao término dos cursos, alguns tornaram-se professores, entre quais me incluo, e decidimos mudar o curso de graduação, enfatizando o ensino de conceitos científicos. Foram também criados os cursos de mestrado e doutorado que, pela própria natureza, são calcados em conhecimentos básicos, acoplados à prática. Mais tarde, os cursos foram classificados pelo MEC com o conceito A (excelentes), tanto na graduação, como na pós-graduação. Sinto-me gratificado por ter participado da equipe, comprometida e diligente, que conseguiu esses resultados tão profícuos. Participei por muito tempo da gestão da área, uma vez que fui Coordenador da Pós-graduação (um mandato) e Chefe do Departamento de Engenharia Metalúrgica (7 mandatos).
A siderurgia brasileira experimentou extraordinário progresso. As empresas expandiram-se, modernizaram-se, implementaram tecnologias de ponta e passaram a produzir produtos sofisticados, necessários à nossa indústria de transformação. Criaram também centros de pesquisa e staffs técnicos de apoio para dar sustentação às exigências de qualidade e melhoria da produtividade. Atingiram o nível de excelência mundial. Em termos de custos, galgaram patamares insuperáveis, sendo a mais competitiva do mundo em muitos produtos. Lembro-me de que, com a criação da Arcelor, a usina de Monlevade possuía os melhores indicadores, tanto assim que passou a exportar conhecimentos para empresas do Grupo na Europa. Contribuímos para que as empresas dominassem as novas tecnologias e otimizassem a produção, formando técnicos de alto nível ( mestres e doutores). A Pós- Graduação em Metalurgia da UFMG já formou mais de 1050 mestres e doutores, a metade deles em convênios com a indústria. No Departamento, iniciamos o movimento de gestão pela qualidade que foi difundido por todo o País, inicialmente no setor siderúrgico, que ajudou sobremaneira as empresas no desenvolvimento acima citado.
O que vemos hoje? Uma indústria em crise, com baixa demanda interna, sem condições de exportar. A China vende aços ao Brasil a valores bem mais baixos que os nossos.
Algumas causas: não existe um projeto de País, tampouco uma política industrial; energia elétrica, a mais cara do mundo; infraestrutura péssima; relações trabalhistas anacrônicas; tributos elevados e gestões temerárias, em algumas empresas. Não somos mais competitivos! Quando viajo a Gov. Valadares, ao passar pelo Vale do Aço, vejo-o em agonia, tal o marasmo que tomou conta da região.