Não há mal que nunca se acabe nem bem que sempre dure. O provérbio traz esperança de dias melhores, apesar de, no Brasil, parecer que o mal nunca acaba.  É extremamente difícil extirpá-lo, pois, na eterna luta contra o bem, o mal é muito forte. Ele se cerca de salvaguardas quase intransponíveis, principalmente no meio político. Julgo que o surto endêmico de corrupção que assola o País é de responsabilidade, em grande monta, de parte da turma do foro privilegiado. Esta mazela é um grande obstáculo ao combate dos males de que temos notícias. A situação que vivenciamos é causada pelos políticos delinquentes e corruptores. São eles que vão em busca de financiamentos de campanhas eleitorais, do “ressarcimento” de fortunas gastas nas citadas campanhas, de recursos para partidos políticos e também de enriquecimento ilícito. Constata-se que há pessoas riquíssimas que só militaram na política durante toda a vida. Daí, deduz-se que a atividade política é um meio eficaz para amealhar fortunas.  Há também outras motivações para a delinquência. Cita-se o emblemático projeto da obtenção de recursos financeiros, por meio de expedientes amplamente divulgados, para o PT permanecer no poder por longos anos.

 

Em outra vertente, é sabido que empresários não são santos! Quando encontram campo fértil, apetite voraz por recursos, pessoas desonestas, nadam de braçadas. Deve haver também empresários que atuam ativamente na corrupção de agentes públicos.  Conseguem vantagens, ganham licitações forjadas, à custa de irrigação de caixa 2 e concessão de propinas. Houve relatos de que alguns foram chantageados: ou pagavam, ou não conseguiriam obras. É evidente que tais obras foram superfaturadas para compensar os gastos inerentes. Felizmente, a Lava-Jato surgiu como um milagre. Já colocou importantes empresários atrás das grades; também agentes públicos, gestores de estatais, que se deixaram perverter em favor de políticos e partidos e, pela facilidade, em seus próprios benefícios. A Lava-Jato, sem precedentes no Brasil, nos enche de esperança. Todavia, os principais corruptores ainda estão livres!

 

Do ponto de vista da gestão, a corrupção é um problema, definido como um mau resultado. O Princípio de Pareto nos ensina que, em qualquer problema, as causas vitais que o acarretam são poucas e muitas causas são triviais. No caso específico, a causa principal é o foro privilegiado.  Suspeito que o Congresso não tem interesse em aboli-lo.  Assim sendo, a atual situação exige uma atitude drástica, exemplar, que esta tarefa seja priorizada para extirpar os cabeças da delinquência (como preconiza Pareto).  Isto é dever do STF e é aí que a coisa pega. A morosidade é o padrão.  Lá existem ministros com viés político-partidário, que demonstram gratidão aos que os nomearam, e procrastinadores. É fundamental virar esta página, a fim de que tenhamos a tão necessária credibilidade e respeito internacional. Assim, voltaríamos   a ter investimentos externos mais substanciais.

 

Insisto que é preciso eliminar as causas fundamentais (delinquentes em altos escalões), para o País alcançar estabilidade, voltar a crescer e o desemprego começar a diminuir. Enquanto semanalmente tivermos um novo escândalo, teremos que conviver com estes processos. A questão não é apuração dos ilícitos.  A grande dificuldade está na lerdeza da punição dos envolvidos. P.ex., Renan Calheiros é protagonista de muitas delações e processos. No entanto, continua dando as cartas. É um ultraje ao povo brasileiro.  Gostaria de ver uma profunda investigação no BNDES, cobrindo os governos petistas.  Também a conclusão de outras operações em curso, como a Acrônimo. E punição dos culpados.

 

Entendo que o Presidente Temer está tentando colocar as coisas nos devidos lugares: redução de despesas, do tamanho do Estado, aprovação de reformas, entre outras. Mas há, entre seus colaboradores diretos e apoiadores políticos, pessoas mencionadas em delações premiadas. Isto provoca descrédito e desconfiança. Pode ser que ele tenha que conviver com esta situação para ter apoio, mas será que não existem pessoas honoráveis para ocupar os cargos? A nomeação recente de Moreira Franco foi uma tremenda bola fora. Há os que gostariam que a Lava-Jato fosse paralisada, que se passasse a borracha no passado. Tudo ficaria zerado.  Não é o caminho, é preciso julgar e punir JÁ, como exemplo para as futuras gerações.

 

PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO 191