Como dirigente na UFMG, em Fundações e empresas, durante mais de 40 anos, tive a oportunidade de interagir com pessoas de atributos diversos, entre as quais professores, consultores, funcionários e prestadores de serviços. Sempre que chegavam olhando para o chão, para o teto, para algum outro detalhe no ambiente, “escondendo” as mãos, aí tinha coisa. Podia-se esperar algum pedido ou proposição questionável. Ao contrário, quando chegavam decididos, com olhar seguro, olhos nos olhos, a proposta ou pedido era legítimo. Impossível disfarçar, propósitos honestos e verdadeiros irradiam luz na pessoa. Nesses contatos, irritava-me a insistência do interlocutor em desfilar as próprias qualidades, dizendo sou muito profissional, franco, ético, dedicado, etc. Ora, a modéstia e a humildade são virtudes inquestionáveis. É mais adequado responder às perguntas e, por meio das respostas, de forma sutil e despretensiosa, deixar-se conhecer. A soberba e a vanglória são defeitos horríveis. Isso sempre me remete à canção de Vinicius de Moraes que afirma “o homem que diz sou não é, porque quem é mesmo não sou”. Pura realidade!
Não sou de fazer elogios gratuitos; essa prática é hipocrisia. Também, quando os faço as pessoas ficam em estado de jubilo, pois reconhecem que são reais e merecidos. Adoto sempre a postura de fazer elogios em público, correções em particular, princípio elementar, nem sempre seguido por gestores. Talvez a minha postura seja de inspiração bíblica. Somos criaturas tornadas filhos de Deus pelo batismo. A nossa distância do nosso Deus misericordioso é infinita; por mais certinhos que sejamos, somos extremamente imperfeitos e pecadores. Estamos sempre merecendo o
Seu perdão, resultante do Seu amor infinito. Estamos sempre em dívida! Vale a passagem do Evangelho de São Lucas 17,7: Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. A soberba é a mãe de todos os pecados, conduz a outros capitais; por melhor que seja o nosso fazer, nada se compara ao cuidado e o amor que Deus tem para conosco. Na nossa vida, há pessoas que nos criticam, enfatizando a nossa insensibilidade para com suas realizações e requerem reconhecimentos a todo momento. Ora, se pagamos salários acima do mercado, em dia, com vários benefícios indiretos, cuidando de todos em caso de necessidades, e o trabalho não é alienante, poderiam, pelo menos, dizer: somos trabalhadores úteis, fizemos o que devíamos fazer. Com a baixa produtividade de muitos, quem faz o esperado julga-se merecedor de aplausos.
PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, DIGITAL, EDIÇÃO No. 337