Os conceitos básicos de gestão são de uma simplicidade franciscana. Gerenciar é organizar os meios para atingir os fins, é também resolver problemas (maus resultados) ou ainda bater metas. Implica reconhecer o que são meios e fins. Por incrível que pareça, isso é um negócio difícil. Muita gente boa – que se diz gerente – faz uma tremenda confusão e passa a maior parte do tempo lidando com meios, sem conseguir os resultados para os quais a sua organização existe. Numa escola, aumentar a taxa de aprovação com bom aproveitamento e formar uma biblioteca: o que é fim e o que é meio? A escola existe para promover o ensino-aprendizagem (é a finalidade) e a biblioteca um meio (se bem utilizada, pode ajudar a obter melhor resultado). Metas são colocadas nos fins (combate aos maus resultados ou obtenção de melhorias) e nunca nos meios (causas de problemas ou alavancas de melhorias).
Apesar de óbvio (só o gênio vê o óbvio, como disse Nelson Rodrigues), principalmente governantes, equivocados, dedicam a maior parte de uma gestão trabalhando nos meios, sem se concentrar na obtenção de resultados palpáveis para a população. Conheço o caso de um governador que passou um mandato tentando melhorar a educação do seu estado investindo em meios: melhorando as salas de aula, instalando ar-condicionado, distribuindo computadores para todos os professores, entre outros. Depois de tudo isso, continuou sendo o penúltimo no Ideb. Resolveu aplicar gestão na educação básica, colocando a meta de ficar entre os 5 primeiros, no final do 2º mandato. Concentrou esforços nos meios (causas) que poderiam alavancar a melhoria. Dito e feito: no Ideb recente, alcançou o 3º lugar no país. Para mim, é um atestado de que a gestão focada em resultados realmente funciona, desde que conduzida de forma metódica e persistente, atuando nas causas cruciais responsáveis pelos resultados indesejáveis.
Muito do que se viu na última campanha eleitoral foi o desconhecimento dos conceitos básicos de gestão. Alardeavam que tinham investido bilhões na educação, na saúde, no saneamento básico, para exemplificar. Se tivessem noção do foco em resultados, poderiam relatar melhorias, como: o Brasil saltou do 55º lugar em leitura, no teste do Pisa, para o 40º, o IDH evoluiu do 79º lugar para 50º, a redução da mortalidade infantil em áreas insalubres foi de 50%. Como a atuação não é focada em alterar tais indicadores, tudo ficou como sempre esteve. Trabalharam nos meios, investindo recursos em itens que não acarretaram melhorias. Tudo isso acontece porque não estabeleceram um planejamento nos fins que queriam atingir (resultados) e, consequentemente, não pesquisaram os meios (causas) a serem atacados. Além disso, se trabalhassem corretamente, seria necessário montar planos de ação que deveriam ser conduzidos com o máximo rigor.
Eu gostaria de ver um governante adotar a gestão para resultados durante todo mandato. Em primeiro lugar, teria que priorizar os resultados a serem melhorados. Confesso que é uma tarefa difícil, pois tudo está tão ruim, horrível mesmo. Educação, saúde, segurança (1 pessoa é assassinada a cada 10 minutos), infraestrutura, saneamento básico; é difícil apontar o que está funcionando bem. Mas é preciso fazer isso. Não é possível atacar tudo, tal a situação em que nos encontramos. Só na cabeça de candidatos, que prometem fazer tanta coisa, do tamanho de vários PIBs. Depois, é preciso colocar as metas a atingir, pesquisar as causas a serem atacadas e construir os planos de ação. O governante poderia organizar caderno de metas (ou um painel de controle), em que o acompanhamento da obtenção das metas seria feito periodicamente. Esta é a forma de gerenciar, ainda mais quando se tem elevado número de ministérios ou secretarias. Suponho que, sem esses instrumentos, os despachos gerenciais com ministros ou secretários devem ser festivais de achismos ou ficções. Gostaria de ver também as obras conduzidas, com todo o rigor, de acordo com a tecnologia de gerenciamento de projetos. É sabido que obras assim executadas são entregues no prazo e, muitas vezes, com redução de custos em torno de 20%. Seria uma resposta às práticas brasileiras, cujas obras nunca terminam no prazo e todas estouram os orçamentos.