Quando tomo um táxi, causa-me impaciência ouvir a frase “Quero ver na copa”. Não estou preocupado com a copa! Não haverá grandes mudanças na cidade até lá, mas darão um jeito. Nos jogos, decretarão feriado, as vias serão transformadas em faixa única na ida e volta para o estádio. Nos outros dias, os turistas (se é que haverá turistas com a crise que tende a se agravar na Europa) passarão pelos mesmos percalços do nosso dia a dia, mas não estarão sob pressão de horários. Quanto a nós, temos que viver em uma cidade caótica, sem perspectiva de melhorias importantes. Do Belvedere a Confins, gasta-se uma hora, mas dependendo do horário mais de duas. Para diminuir o tempo, pode-se tentar o anel rodoviário, o que é uma aventura. Pode acontecer acidentes de grandes proporções, como nos últimos meses. Há mais de três anos, não passo pelo anel, pois já perdi voos, fiquei estressado por causa de grandes retenções e medo de acidentes.
A propósito, estamos vivendo o período eleitoral. Alguma novidade? O mesmo despreparo, discursos vazios e demagógicos. Não apresentam sólidas propostas de melhorias do trânsito, p.ex., como já foi feito em grandes cidades no exterior. Sobre a matéria, poderiam inspirar-se no ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa , analisando o ele que fez para melhorar o trânsito e qualidade de vida (implementando soluções inteligentes) naquela cidade. Aqui, ao contrário, em vez de proibirem o estacionamento no centro e em algumas vias importantes, transformam quase tudo em estacionamento faixa azul. É a sanha arrecadatória. Na realidade, tem-se que dificultar o estacionamento nestes locais para que sejam encontradas outras soluções, como transporte solidário, melhoria e uso do transporte público, entre outros.
O país adota uma política inteligente para melhorar o trânsito- suspeito que seja uma estratégia consciente-. Carros fabricados aqui e nos EUA custam até 106% mais caro no país. Certo jeep custa R$56 mil em Miami e importado, R$ 180 mil no Brasil. Se carros populares custassem a metade pela redução de tributos (a do IPI é emergencial) e margens das montadoras, o caos já seria total, com as ruas completamente tomadas. Os preços elevados contribuem para reprimir a demanda e aumentar a arrecadação pelos elevados tributos. Neutralizando essa suposta política, tem-se o subsídio da gasolina, prejudicando inclusive os minoritários da Petrobras como eu, devido à política petista de Lula e Sérgio Gabrielli. O preço da gasolina deveria acompanhar a cotação do mercado internacional, o que forçaria o uso mais racional do automóvel.
Tudo faz parte do mesmo contexto, em todos níveis: desgoverno e incompetência. A prova cabal é a BR 381, a rodovia da morte. Já foram feitas pelo menos 6 importantes intervenções paliativas na rodovia ao logo de 50 anos, do contrário seria intransitável. Fiz uma viagem de 305 km, BH a G. Valadares, gastei 7,5 horas, com a incrível média de 41 km/h. Como previ velocidade baixa, marcha forte, quase em fila única atrás de caminhões, medi o excesso de consumo. Resultou em 85%, aumentando o custo da viagem em R$ 90,00. Agregue-se a isto o desgaste do carro e o tempo perdido. Para os caminhões e ônibus, pelas condições da estrada, há quebras, paradas, acidentes, prazos não cumpridos, etc , prejuízos de toda ordem. Estimando-se o gasto excessivo de combustíveis e outras perdas e multiplicando-se pelo número médio de 10 mil carros/dia (hoje são 20 mil) durante 30 anos, chega-se a R$ 20 bilhões(sem contar perdas humanas que não têm preço) de prejuizo, suficientes para retificar o trajeto da estrada e duplicá-la. A rodovia atende a cidades polos e 4 importantes indústrias. Julga-se que a região estaria em outro patamar de progresso se tivesse uma boa rodovia. Como há não vontade política e competência para definir prioridades, o Brasil é conduzido ao sabor das emoções. O que fiz não foi novidade. A CNT já concluíra que rodovias ruins têm um custo adicional de 66%. O DNIT divulgou que cada R$1 real investido proporciona R$3 de retorno. Um governo como mínimo de competência administrativa já teria priorizado a retificação e duplicação da BR 381 no trecho referido.