Meu irmão Geraldo disse que me telefonou várias vezes há dias. Depois, mostrei a ele que não havia qualquer registro. Um amigo me chamou no fixo para dizer que meu celular não o atendia. Conferi e nada registrado. No cotidiano, quedas de ligações, sons ininteligíveis e informações de que o telefone chamado não existe ou está fora de área são comuns. Tanto as pessoas chamadas como eu não estamos em alguma casamata, sem serviço. A telefonia celular está em colapso, como muitas outras coisas no País. Já fiz portabilidades. A primeira operadora não cobria a nossa fazenda perto de Frei Inocêncio, MG, e lá eu ficava isolado. Troquei para a segunda. Devido a custo elevado, migrei para a terceira. As falhas apontadas persistem. Apesar de tudo, eu deveria ficar feliz, em vista do que vou narrar.
Quando meus irmãos e irmãs e eu viemos estudar, ficávamos exilados em BH. A fazenda do meu pai está localizada a incríveis 276 km, em Pedra Corrida, próxima a Gov. Valadares, mas a comunicação era dificílima. Primeiro, é preciso mencionar a aventura que era a viagem de trem de 13 horas, com baldeação em Nova Era. Agora, a viagem de trem já dura “apenas” 8 horas. A rodovia já é asfaltada, mas não tenho coragem de enfrentá-la, pois se trata da BR 381, a rodovia da morte. O melhor é fazer a viagem de avião, apesar do custo elevado por falta de concorrência na rota. Voltando à comunicação com os pais, só o fazíamos por carta, algum portador ou um rádio amador, a que recorríamos para assuntos de grande necessidade. No geral, ficávamos isolados.
Eu trabalhava com meu tio Geraldo Godoy e estudava à noite. Às vezes, ele me pedia para chegar mais cedo ao escritório, às 7h, e pedir à telefonista uma ligação para uma empresa de São Paulo que representávamos. Eu passava o dia inteiro reiterando o pedido e, na maioria das vezes, não conseguia a ligação. Incrível pensar nisso hoje.
Passamos anos sem telefone no nosso apartamento. Para conseguir um, tivemos que participar de um plano de expansão, na prática adquirir ações da companhia telefônica, pagando prestações durante dois anos. Mesmo depois de pago o plano, ainda demorou muito tempo para a instalação. Quando fui fazer doutorado na Noruega, em 1969, no Brasil ainda não havia DDD. Ainda precisávamos de ajuda da telefonista. Poderia fazer ligações, mas o custo elevado o impedia. Escrevia uma carta por semana( 160 em três anos) e recebia a resposta dez dias depois. No último ano de minha estada lá, fiz uma ligação para o meu pai, pelo aniversário dele, e também para dizer de viva voz que já estava terminando o curso. Custou 1/3 da minha bolsa de estudos. Situação semelhante não teve que passar o meu filho Rodrigo Godoy, quando fez pós-graduação na Inglaterra. Falávamos todos os dias.
Quando assumi a Diretoria da Escola de Engenharia da UFMG, só havia um telefone pelo qual se podia fazer ligações interurbanas. Todos tinha que acorrer à
Secretaria da Escola para comunicações externas. Felizmente, ao término do mandato, deixei cercas de trinta novos números nos vários Departamentos e outros setores administrativos. Baita progresso!
Nas viagens de estudo da Gestão pela Qualidade Total, aos EUA e Japão, em 1986, fiquei satisfeito com o estágio em que nos encontrávamos. Era possível solicitar uma “collect call to Brasil” e ser atendido. Motivo de júbilo! Aceitavam ligações a cobrar para o Brasil, o que significava que o País já tinha credibilidade para pagar as contas.
Voltando à fazenda do meu pai, inicialmente instalou-se o que se chamou de celular rural, com uma antena no alto do morro. Dava muitos problemas. Depois, transformou-se em telefone fixo normal, o que nos interliga ao mundo, por discagem direta. Nessa lenta evolução, lembro-me da angústia de todos nós pela impossibilidade de comunicação instantânea. Eu deveria ficar eufórico com o estágio atual. E não falei de internet e seus avanços! Mas não é produtivo olhar para trás e conformar-me com as falhas apontadas acima. É para frente que se olha. Temos que fazer comparações com outros países nos quais os serviços são de elevada qualidade. Existe um “gap” tecnológico muito grande a ser superado para que o País possa competir em igualdade de condições.