Em continuação ao artigo anterior, resgato mais alguns erros crassos. Uma consultora diz: estou meia cansada. Este é manjado demais, mas acontece; outra sentencia: não é que eu seje ou esteje desanimada, mas a condução do projeto está difícil. Difícil mesmo é aceitar tal aberração; um repórter anuncia: fazem 50 anos que a revolução aconteceu. Ora, o verbo fazer, na contagem de tempo, só se conjuga da 3a pessoa do singular. Então, faz 50 anos; outro informa: houve uma vítima fatal. Fatal mata, vítima morre; se você ver o Manoel, diga-lhe que tenho um trabalho para ele. Não, o futuro do subjuntivo de ver é vir; prefiro mais isto que aquilo. Nem pensar, prefiro isto a aquilo; temos quatro alternativas. Negativo, temos quatro opções. Alternativa é uma coisa ou outra. E, nessa toada, erros se sucedem. Para a seleção de consultores, o Prof. Carlos Bottrel Coutinho e eu preparávamos provas para avaliar se erros mais comuns eram percebidos. Para nossa surpresa, muitos deles passavam batidos, o que atestava a má preparação dos candidatos. Para evitar que escapassem alguns houveram, seje ou esteje no trabalho, decidimos redigir um manual contendo alguns dos erros mais absurdos. Além de entregar o manual, eram feitas reuniões para discuti-lo.
Prof. Bottrel foi o nosso revisor oficial na produção de livros textos das três editoras vinculadas, ao longo do tempo, às organizações FCO/UFMG, FDG e INDG, que ancoraram o nosso Projeto de Gestão Empresarial. A revisão visava a garantir a integridade do conteúdo técnico e também da Língua. Os textos traduzidos do Japonês também passavam pelo mesmo crivo. Foram mais de 200 obras. Por ser expert em Inglês, o Prof. Bottrel me deu imprescindível ajuda. A nossa correspondência com a JUSE- União de Cientistas e Engenheiros Japoneses foi extensa. Durante 14 anos, enviamos propostas, relatórios, projetos, programas de missões, etc. Um trabalho imenso e incansável. Sendo o Prof. Bottrel também taquígrafo, minha vida ficava facilitada. Comentava as ideias com ele, que as taquigrafava. Depois fazia a versão para o Inglês, belíssimas peças literárias. Não encontrei tal ajuda mesmo com pessoas que tinham o Inglês como língua pátria.
Pelo exposto, fica claro que, mesmo para engenheiros, o domínio de idiomas é de suma importância. Pela vida afora, escrevi tese, relatórios, projetos, artigos, palestras, apresentações, discursos ( fui paraninfo de turmas de engenharia algumas vezes, pena que não guardei tais discursos), corrigi teses e trabalhos acadêmicos, etc. Se não tivesse razoável familiaridade com o Português, a tarefa seria dificultada. Por falar em discurso, li há muitos anos um famoso de Rui Barbosa(1849-1923), escrito para paraninfar a turma de 1920, da Escola de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Foi lido por outra pessoa, pois ele se encontrava adoentado. É obra literária de envergadura, qualificada como seu testamento político e considerada como explicitação do seu legado. Todos jovens deveriam estudá-la. Um pormenor: fiquei com muito dó do mestre Rui, pois em uma passagem diz: “Até agora, nunca o sol deu comigo deitado, e, ainda hoje, um dos meus raros e modestos desvanecimentos é o de ser grande madrugador, madrugador impenitente”. Nunca teve o prazer de, em um domingo, p.ex., ficar na cama até mais tarde. Eu não dispenso tal privilégio.
Todos idiomas têm suas peculiaridades. Por isso, não é justo dizer que o Português é muito difícil. Vejam o Inglês, v.g.: não há plural para as palavras information e advice (conselho). Quando se quer o plural, tem-se que apelar para pieces of information ou pieces of advice. Eu já cometi o erro de dizer informations. E a pronúncia: tem-se que conhecer cada palavra, não há regras, e somos levados a erros por similaridade. O verbo to count ( contar) se pronuncia como to kaunt. Já a palavra country (país) é kantry e não, kauntry. Entre nós, essa pronúncia é comum. O “o” do verbo to close é fechado, mas em closet(local onde se colocam roupas e outros) o “o” é aberto, como colo. Corretores de imóveis, todos, cometem esse erro. O Prof. Bottrel me corrigiu a pronúncia de closet recentemente. Para dominar razoavelmente qualquer idioma tem-se que estudar e ler muito, com denodo. Nada na vida é de graça.