Estou desolado, desiludido, sem esperança de um futuro

brilhante para o Brasil. Como foi possível chegarmos a esse

ponto? Todos os dias estoura um escândalo (o do momento é a

Fatura Exposta, no RJ), como resultado de falcatruas em vários

níveis da administração pública. A lista divulgada pelo Ministro

Fachin revela o grande número dos que serão investigados,

pessoas importantes da nossa vida pública. Na fazenda, existe

o ditado: Quando o patrão se assenta, o camarada deita.

Fazendo uma analogia: Quando os altos dirigentes da República

cometem os ilícitos noticiados, os maus exemplos são

disseminados amplamente. A situação do RJ é de calamidade:

Sérgio Cabral e sua gangue tomaram o Estado de assalto. É

insuportável constatar que o País está sendo gerenciado por

Renans, Eunícios, Jucás, Padilhas, Moreiras, Kassabs, entre

outros. Não entendo como o Presidente Temer mantém

ministros sobre os quais há reiteradas denúncias. Veremos agora

como vai proceder, uma vez que 6 dos atuais serão investigados.

Lembro-me que o Presidente Itamar Franco afastou um de seus

ministros que fora denunciado. Quando o ministro provou sua

inocência, voltou ao posto. Considero o atual procedimento um

deboche, um desrespeito ao povo brasileiro.

O execrável, famigerado, indecente, foro privilegiado é a razão

deste estado de coisas. Constata-se que há cerca de 33 mil

pessoas nesta situação (uma concepção da democracia

brasileira!), enquanto na China há cerca de 2500 (compreensível

pela característica do regime chinês) e nos Estados Unidos zero.

Parece que procede a história de que Deus presenteou o Brasil

com muitos recursos e belezas naturais, sem terremotos,

vulcões, furacões. Em compensação, deixou aqui alguns políticos

(há poucas exceções) da pior índole. Há outros segmentos que

também merecem destaque, mas alguns de nossos políticos são

hors concours. O foro privilegiado é a criação dessas brilhantes

cabeças. Haja vista a tentativa recente de acabar com essa

excrecência. Conseguiu-se número mais que suficiente para

votar a PEC relativa ao assunto, em regime de urgência, mas o

Eunício, vulgo índio na definição de doadores de propinas, faz

operação tartaruga na tramitação da matéria. Isto interessa a um

grande número de parlamentares e integrantes do executivo,

encalacrados até o pescoço em denúncias de práticas corruptas,

muitos deles agora investigados. É um absurdo supor que o STF

tenha condição e celeridade para julgar os envolvidos. A

Suprema Corte fica reduzida a um mero tribunal julgador de

ilustres meliantes. Como a morosidade é a tônica do STF, este é o

melhor dos mundos para os delinquentes protegidos. Com isto,

sentem-se seguros, pois reconhecem que ficarão impunes.

Para coroar o processo de impunidade que poderia advir da

punição de determinados candidatos nas próximas eleições,

sábios congressistas pretendem aprovar uma reforma eleitoral

em que, ao eleitor, seriam apresentadas listas fechadas

organizadas pelos partidos. A votação passaria a ser no partido. É

claro que as listas seriam organizadas pelos mesmos caciques

envolvidos nas denúncias tão conhecidas. Ficariam escondidos,

de forma a evitar a sua rejeição. É o famoso jeitinho, tão

reprovável e indecente, de continuar participando da casta do

foro privilegiado.

Outra iniciativa para a manutenção do poder é a rejeição da

reforma da previdência. Os demagogos que se dizem defensores

dos trabalhadores são contra a maioria das propostas. Ora, com

a expectativa de vida no País aumentando, a população

envelhecendo e a taxa da natalidade diminuindo haverá um

momento a partir do qual existirá mais gente aposentada do que

trabalhando. Restará rezar aos céus para poder pagar os

aposentados. Se a reforma não for aprovada, estaremos na

contramão da história, se compararmos com muitos países

desenvolvidos. Gostaria de enfatizar que trabalho é vida.

Manter-se ocupado é um privilégio para poucos. Depois que me

aposentei na UFMG, realizei muita coisa no campo empresarial,

e continuo muito ativo, até mais do que gostaria. E quantos têm

a mesma oportunidade que eu tive? Aposentar-se mais cedo

para ver a vida passar e esperar o fim?

Em suma, um grupo eclético de parlamentares de várias

legendas maquina para a manutenção do poder, em desfavor na

nação. Com isso, não se trabalha para a recuperação econômica

e enfrentamento dos problemas cruciais do País, condenando-

nos ao atraso e subdesenvolvimento.

 

PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO No. 195