Pelo dia dos pais:
Meu pai era uma pessoa à frente do seu tempo. Sabiamente, apesar de eu ser o filho mais velho, encaminhou as filhas para estudar antes de mim. Com dificuldades financeiras e tantas coisas a fazer, permaneci na fazenda até quase completar 15 anos e comecei a ajudar nos afazeres com cerca de 8 anos. Meu pai era um grande gestor e percebeu que, mesmo na fazenda, eu deveria desenvolver muitas habilidades. Então, prescreveu um leque amplo de atividades, com uma agenda bem definida: preparar comida para os porcos, atender no armazém, organizar o manejo de pastos para gado, entre outras. Nos intervalos, tinha que estudar, autodidaticamente, as matérias de admissão ao ginásio. Havia também no programa diário um jogo de futebol de 35 min. Ao cair da noite, as sagradas orações diárias. Ele era também um rígido cobrador das tarefas. Qualquer anomalia tinha que ser corrigida imediatamente. Lembro-me de ter que buscar um gado às 2 horas da manhã, por estar no pasto não previsto. Isso foi muito importante para o meu futuro como administrador: aprendi a ter visão global das coisas, não negligenciar atividades, conduzi-las todas de acordo com o estabelecido (isso faz com que se adquira a habilidade multitarefas – há pessoas que só conseguem cuidar de uma coisa por vez; são as chamadas de “one-track mind”-), a ter responsabilidade pelas obrigações. Há também pessoas que não sabem priorizar( ignoram o Princípio de Pareto) e, pior ainda, aquelas que confundem os fins com os meios.
Não frequentei a escola primária. Tive as primeiras letras pela minha querida mãe (era pessoa bem educada, instruída, após 8 anos de colégio interno salesiano, em Cachoeira do Campo. Saliento que era a única pessoa na região capaz de “ajudar a celebrar a missa em latim”, no papel de coroinha). Aprendi também pelo método global, lendo e escrevendo no armazém as palavras feijão, arroz, fubá, macarrão, entre outras. Pelo aspecto e tamanho da palavra, eu deduzia a que se referia. Arroz e feijão, tanto no prato, como no formato das palavras são bem diferentes. Quando já estava lendo bem, desenvolvi-me rapidamente por meio de revistas em quadrinhos. Meu pai as proibia, mas quem não transgride em alguma coisa? Tinha assinaturas de algumas revistas e um conluio com o carteiro, que só as entregava a mim. Julgo até hoje que foi uma transgressão inocente (e produtiva). Em BH frequentei algumas aulas numa escola estadual noturna e tirei o diploma do primário com nota 10.
Que incrível escola dos pais! Sucesso para prosseguir os estudos e ensinamentos importantes para vida. Não foi no Japão que aprendi as primeiras lições de gestão.
PUBLICADO NA REVISTA VIVER BRASIL, EDIÇÃO 201