Autor: José Martins de Godoy

Afinal, houve a Copa da Fifa

Para amenizar a ameaça de não vai ter Copa, uma rede de televisão (que muito investira para ter os direitos de transmissão) divulgou uma série de reportagens sobre os convocados, entre outras iniciativas. Vindos de classes pobres, com dificuldades quase insanáveis, foram apresentados, em minúcias, como super-heróis. O grande objetivo era motivar-nos a apoiá-los. Ora, a maioria dos brasileiros passa por isso. Se analisarmos a vida de muitas pessoas, veremos que enfrentam condições adversas e também vencem. Ajudam a desenvolver o país, em vários campos, porém não são milionários e endeusados pela mídia. Sobre o fracasso dos brasileiros quase tudo já foi dito. Reafirmo que o resultado foi merecido, por conta (novo modismo da nossa língua) dos preparativos. Jogando em casa, com tantos heróis, o hexa era tido como favas contadas. Assim, dedicaram tempo demasiado para entrevistas, pintar cabelos e posar para comerciais. Só faltou tempo para treinar, traçar estratégias, ensaiar jogadas, estudar os adversários etc. Os poucos treinos foram feitos com presença de público, a ponto de o treinador pedir silêncio em um dos últimos para poder transmitir instruções, se é que as havia. Era o oba, oba, generalizado! Glórias passadas, camisa e entusiasmo não ganham jogo. As seleções candidatas ao título se isolaram, treinaram para valer, analisaram adversários. A seleção alemã dispunha de software, desenvolvido por empresa de ponta, capaz de analisar o desempenho dos jogadores oponentes,...

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Não ao desperdício, mais uma vez

Abomino a maciça propaganda dos governos federal, estadual e municipal. Pelo volume e abrangência, depreende-se que são gastas vultosas somas. Também o Legislativo, Assembleia Estadual e Câmara Municipal, aderiram à mesma prática. Considero isso um grande desperdício, pois há destinações mais nobres para as verbas, principalmente na educação, saúde e segurança. Os governantes deveriam entender que as pessoas saberiam reconhecer os feitos e dariam os devidos créditos a quem, de fato, fizesse boas administrações e realizasse obras necessárias, seguras e sem superfaturamento. Por exemplo, o governo que duplicar e tornar mais segura a BR-381, de Belo Horizonte a Governador Valadares, certamente ficará na história. Merecerá um busto no ponto em que ocorre a maioria dos acidentes. Não é aceitável esta propaganda avassaladora, na maioria lastreada em inverdades. A minha repulsa é tanta que, na mídia escrita, não tomo conhecimento do conteúdo e passo as páginas sem dar a mínima atenção. Na TV, vejo noticiários, em geral. Nos horários nobres, a propaganda é mais intensa e, é claro, deve ter custo mais elevado. Naqueles minutos, mudo de canal, em protesto, e só retorno depois de transcorrido o tempo dos anúncios. Também, abomino as chamadas de novelas durante os noticiários. Essas novelas são uma praga brasileira, um grande desperdício de tempo da população, que poderia usar muitas horas do dia em atividades mais edificantes e prazerosas, como leitura, reflexões, orações, convivência...

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ERROS CRASSOS DE PORTUGUÊS (II)

Em continuação ao artigo anterior, resgato mais alguns erros crassos. Uma consultora diz: estou meia cansada. Este é manjado demais, mas acontece; outra sentencia: não é que eu seje ou esteje desanimada, mas a condução do projeto está difícil. Difícil mesmo é aceitar tal aberração; um repórter anuncia: fazem 50 anos que a revolução aconteceu. Ora, o verbo fazer, na contagem de tempo, só se conjuga da 3a pessoa do singular. Então, faz 50 anos; outro informa: houve uma vítima fatal. Fatal mata, vítima morre; se você ver o Manoel, diga-lhe que tenho um trabalho para ele. Não, o futuro do subjuntivo de ver é vir; prefiro mais isto que aquilo. Nem pensar, prefiro isto a aquilo; temos quatro alternativas. Negativo, temos quatro opções. Alternativa é  uma coisa  ou outra. E, nessa toada,  erros se sucedem. Para a seleção de consultores, o Prof. Carlos Bottrel Coutinho e eu preparávamos provas para avaliar se  erros mais comuns eram percebidos. Para nossa surpresa, muitos deles passavam batidos, o que atestava a má preparação dos candidatos.  Para evitar que  escapassem alguns houveram, seje ou esteje no trabalho,  decidimos redigir um manual contendo alguns dos  erros  mais absurdos. Além de entregar o manual, eram feitas reuniões para discuti-lo. Prof. Bottrel foi o nosso revisor oficial na produção de livros textos das três editoras vinculadas, ao longo do tempo, às organizações FCO/UFMG, FDG e...

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Erros crassos em português (I)

Assistia com interesse à exposição de um consultor do agronegócio, quando ele mencionou que certo fazendeiro interviu num processo (deveria ser interveio)…. Perdi o interesse e ele a credibilidade. Um político relatou: houveram muitas dificuldades para aprovar certa lei (como haver é impessoal, deveria ser houve). Certamente, não será reeleito. A professora Dad Squarisi recomenda: “Risque houveram do seu vocabulário, você nunca vai precisar dele”. Em conversa com uma pessoa, ela disse que minhas ideias iam de encontro às dela. Como estava de cara boa, parecia que concordava. Se, de fato, concordava, deveria ser ao encontro. Um palestrante, bem falante, disse “há muitos anos atrás”. Tirou-me a concentração. Excrecência redundante, como subir para cima ou descer pra baixo.  Deve ser: há muitos anos ou muitos anos atrás.  Advogados gostam de usar protocolizar. Segundo a citada Squarisi: “É filhote de cruz credo”. Prefira protocolar. Nessa linha, sucedem-se   bastantes erros, facilmente reconhecidos por quem tem familiaridade com nosso idioma. Em determinados momentos, surgem modismos. Já foi a vez do a nível de. Está desaparecendo. O gerundismo já foi grande campeão, influência do inglês e telemarketing: vou estar telefonando, vou estar trabalhando são exemplos. Felizmente, está caindo em desuso.  Agora, é enquanto. Dizem: eu, enquanto pessoa… O Brasil, enquanto nação independente…. Há poucos dias, num discurso de agradecimento por um prêmio, o agraciado usou inadequadamente enquanto 12 vezes. Deus me livre! Enquanto...

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É dando que se recebe

Consta que São Francisco de Assis nunca disse a expressão “é dando que se recebe”. Contudo, julgo que, na prática, a expressão prevalece. Conheci, numa grande empresa siderúrgica estatal, um superintendente de recursos humanos, muito dedicado, comprometido, zeloso pelo seu trabalho, que queria fazer o melhor pela empresa. Como sempre acontece em empresas, há competições e mesmo pessoas que gostam de interferir no trabalho de outros, com intuito de aparecer e poder galgar posições superiores. Essa empresa não era exceção. Nas minhas reflexões, pensei: esse superintendente precisa marcar um gol e nós precisamos de um projeto que seja um grande desafio. Rascunhei um pré-projeto e fui discuti-lo com o citado técnico. Disse-lhe: a empresa vai receber tecnologias de ponta e quem vai recebê-las? É um grande desafio, pois há necessidade de pessoas de elevada capacitação.  Proponho que você forme técnicos com o mestrado. Contrate engenheiros agora no fim do ano, mande-os para Belo Horizonte para fazer os créditos e em seguida eles elaboram as teses em temas ligados às novas tecnologias, já trabalhando na usina. Ele aprovou a ideia, apresentou-a ao presidente que o aval para prosseguir. Elaborei um projeto robusto, contemplando inicialmente a formação de 20 mestres, para obtenção de financiamento de uma agência governamental. Aprovados os recursos, estávamos prontos para começar. Mas no Brasil, nem tudo são flores. Tive um colega que dizia que aqui vivemos em...

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