Autor: José Martins de Godoy

O BRASIL NA ERA DO TALENTISMO

Em recente entrevista, o presidente do Banco dos Brics, Marcos Troyjo, fez uma análise abrangente sobre a nova geoeconomia. Um dos pontos relevantes foi a reordenação econômica do mundo, a partir do que ele caracteriza como “talentismo”. Segundo ele, a setorização econômica que compreendia os EUA como o grande mercado, seguido da União Europeia, a China como a fábrica do mundo e o Brasil como a fazenda, está em franca mutação. O fator-chave seria a consolidação da era do “talentismo”, em substituição ao capitalismo puro e simples. E os novos agentes dessa era seriam um conjunto de países asiáticos, não mais somente a China e o Japão. Isso porque fortaleceram e muito a formação de talentos nas últimas décadas. O Japão foi pioneiro nessa revolução. A China, ao contrário do que muitos pensam, já não mais se baseia em baixo custo humano para produzir, mas em níveis elevados de produtividade e crescente complexidade de sua produção. Outros países asiáticos vêm evoluindo a passos largos em termos econômicos, baseados na formação de capital humano. O que isso significa para o Brasil? O nosso comércio exterior tende a melhorar com a ascensão desses países asiáticos, já que temos atualmente a política de fazer negócios multilateralmente. E, a julgar pelo histórico, nações que prosperam da baixa renda buscam primeiro a satisfação da demanda alimentar. O Brasil, que já alimenta pelo menos um...

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META IMPOSSÍVEL NA EDUCAÇÃO (II)

Afirmei anteriormente que seria impossível o Brasil voltar à 30ª posição no teste do Pisa em 2030. A educação é a bola da vez, no discurso, mas não vejo a sua priorização, haja vista a amostragem de que dispomos. Por falta de conhecimento gerencial, a maioria dos prefeitos e secretários (as) está perdida em atividades meios, na vã esperança de obter melhoria dos resultados. Vários municípios, ao serem procurados, informam que estão conduzindo muitos projetos e não têm condição de conduzir mais um, na perspectiva de que seria mais trabalho. Pelo contrário, um projeto de gestão possibilita harmonizar todos os esforços para o atingimento das metas, podendo os “tais” projetos serem incluídos no plano de ação e serem conduzidos num contexto otimizado. É preciso que os dirigentes entendam que um projeto de gestão define com precisão os fatores que devem ser realmente trabalhados para obtenção dos resultados projetados. Para superar tais dificuldades, seria necessário um direcionamento superior que ostentasse credibilidade, top down, em nível de país, para uma abordagem correta na condução das atividades. Reclama-se que há falta de recursos. Pelo menos em Minas, nunca os municípios foram tão aquinhoados. Há também grandes grupos empresariais que aplicam vultosos recursos em palestras, encontros, seminários, na discussão do “quê”, com ausência do “como”. Investem também em muitos projetos, normalmente em apoio a atividades-meio. Ficam satisfeitos com a divulgação de tais realizações,...

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META IMPOSSÍVEL NA EDUCAÇÃO(I)

Uma consultoria internacional, apoiada por especialistas e empresários, estabeleceu metas para o Brasil/2030. Na educação, o desafio é retornar aos indicadores de 2000, no teste do Pisa, ocupando a 30ªposição; hoje, os indicadores leitura, matemática e ciências estão na incrível faixa de 60-70º. A meta é dificíl de ser atingida pela não priorização da educação no país. Não será por meio de iniciativas como as da FDG, de procurar governadores e prefeitos para convencê-los de que a educação é a alavanca para o desenvolvimento social e econômico do país. Nem todos têm o descortino do governador de Minas e prefeitos como os de Nova Lima, de Congonhas e dos municípios apoiados pela AngloAmerican. Temos contatado muitos prefeitos e lhes falta sensibilidade para o assunto. Quando muito, estão preocupados em reformas de instalações físicas, entre outras, pois já foi provado que isso não produz melhoria do desempenho dos alunos. Sem aplicação de gestão, o ensino-aprendizagem é fracasso na certa. Há também no país a cultura do diagnóstico. Conheço um exemplo de uma capital que pagou caro por demorado diagnóstico da área educacional a uma empresa de consultoria. É algo que conseguimos fazer em dois dias, consultando os dados existentes. Gasta-se muito tempo nesses estudos e a energia e recursos para o ataque aos reais e óbvios problemas já foram consumidos. Por que não partir logo para ação? O óbvio deve...

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O DESASTRE INDUSTRIAL BRASILEIRO

Na última edição, The Economist destacou que nenhum outro país viu sua indústria perder tanta participação no PIB quanto o Brasil. A queda foi de 2%/ano, em 40 anos. A reportagem aponta como principal razão o protecionismo à nossa indústria frente à competição estrangeira, que acabou gerando o isolamento em relação às cadeias produtivas globais. Na prática, o que houve foi uma sucessão de governos que deram a condição protecionista à nossa indústria, focando somente no atendimento à demanda interna e deixando gradualmente de lado a produtividade como fator chave para competir globalmente. Os números são contundentes: entre 1980 e 2017, a incorporação de valor aos produtos industriais brasileiros cresceu somente 24% em termos reais, comparado com 69% na Argentina e 204% no mundo como um todo. Isso explica termos perdido recentemente para o país vizinho uma relevante indústria automobilística. É claro que contribuem para isso os entraves do custo Brasil, que é composto de alta carga tributária, sistema tributário complicado, logística deficiente, custo elevado da energia, burocracia e corrupção. São as famosas bolas de ferro amarradas aos pés dos empreendedores brasileiros. No entanto, o custo Brasil não é o único culpado. É necessário ressaltar o fato de que muitas indústrias estão negligenciando e até mesmo abrindo mão de sistemas robustos para garantir a melhoria contínua de produtividade, principalmente no que se refere aos seus processos. É notório que...

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LIÇÕES DAS NAÇÕES PRÓSPERAS

Passado o Carnaval, o Brasil começa a se movimentar. O momento eleitoral que se aproxima tomará boa parte das discussões nos meios de comunicação e também nas ruas. Minha intuição diz que, ao invés da pauta prioritária do desenvolvimento econômico, ou seja, como o país fará para prosperar de forma sustentável, o combate à corrupção seguirá na ordem do dia. Trata-se de pauta de extrema relevância, mas será que podemos alcançar o status de uma sociedade desenvolvida unicamente com essa iniciativa? Sobre o assunto, vale a pena ler a obra de Clayton Christensen, criador do conceito de inovação disruptiva. Em seu livro O Paradoxo da Prosperidade, Christensen dedica um capítulo inteiro ao tema da corrupção, indicando suas causas, estágios, exemplos de nações que conseguiram evoluir a um estágio de transparência (entendido por ele como o oposto da corrupção), e o que fizeram para tal. Segundo ele, mais do que novas leis, fiscalização e fortalecimento institucional, o que fez tais sociedades evoluírem do pior estágio de “corrupção escancarada e imprevisível” para o almejado status de “transparência” foi o fortalecimento e criação de novos mercados, com geração de oportunidades melhores para o homem médio prosperar com dignidade, sem precisar avaliar o risco-benefício da transgressão. Ao ler o conteúdo, temos a convicção de que o Brasil oscila entre os estágios mais atrasados em termos de corrupção, entre a “escancarada e imprevisível” e...

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